Tuesday, October 29, 2019

Dançando na Fogueira


As bruxas chegam em bando, chegam na neblina, chegam por entre as árvores. Elas trazem um milhão de anos embaixo de seus cabelos de pôr-do-sol, trazem olhos que já viram tudo. Uma bruxa sempre sabe o que você é, o que foi e muito do que será. Seu rosto de iluminação trevosa já equilibrou o que precisava, e esta noite a feiticeira dança sobre o fogo da fogueira de sua intuição. Cada chama causa àquela senhora cócegas cósmicas, e ela sabe que está a serviço da força maior, sua Lua cheia.
Seu chamado vem com a voz de uma mãe. Ela deu luz ao mundo, ela lhe ensinou as trevas e ela lhe deu a lanterna. Uma filha da Terra jamais deixaria de oferecer a doçura que recebeu dos lábios da Deusa. Compartilhar é seu maior dom. As bruxas são a encarnação da sabedoria piedosa, do beijo na testa e das bençãos silenciosas.
Quando uma bruxa te olha, seus olhos castanhos de tronco de carvalho brilham em reconhecimento. Ela sabe de pronto, pois já viu um milhão de vezes. Ela sabe porque sempre soube enxergar enquanto os outros viam.
Se um dia uma bruxa lhe dirigir uma palavra, apresse-se em engolir cada palavra como um pedaço de verdade sabor camomila. No fundo, ela veio até aqui só para isso, para que com sua maternidade divina e instintiva ela consiga te indicar a direção onde a trilha das árvores é mais florífera, onde o escuro pode ser sobreposto pela luz do diamante em seu cajado. Não se atreva a se mexer, você pode estragar tudo, você pode perder o espetáculo feminino.
Eu, um dia, vi uma bruxa. Eu confesso que nunca me recuperei do choque de vê-la dançar. Ela girava como a Terra, brilhava como o Sol, se movia como a Água e me tocava como o Ar. Sua saia rodada era uma ciranda estelar. Sua sensualidade, descomunal. Ela trazia em seu corpo o orgasmo celestial. Nada pode superar isso, nem um milhão de anos. Após dançar seu rito circular, ela se foi, como uma bruxa, como uma aparição, e me deixou iluminado. Me deixou inspirado. Eu agradeço. E sei que ela ri quando ouve. Como são gentis essas bruxas.

V.G.

Friday, July 26, 2019

Explosão Galáctica


Eu estava lá no dia em que a Deusa sorriu ao criar a doçura. Eu não sabia que tamanha gentileza era possível. Assustado, eu me virei. Ela gargalhava em forma de estrelas.

Nos teus olhos, ela colocava a profundidade dos mares da noite, escuros e então iluminados pela Lua tão generosa, que te doava o poder de me olhar nu, com a alma mais exposta que jamais estive. Não há segredos para quem tudo perdoa. E nos teus olhos não cabe mais empatia.

Em um segundo, senti a Deusa explodir zilhões de galáxias que formavam o teu sorriso, a tua boca sorria o infinito. Era o calor do amor, me dizia a Deusa sem nunca precisar falar nada. Ela estava só começando. 

Nessa hora, foi impensável não te olhar. Foi assombroso te olhar. Era tanta piedade. Era tanta clemência, você era a expressão do inexplicável. Ela ria muito! Ela rolava em êxtase enquanto compartilhava com você o segredo mais importante. Você agora sabia, você sempre soube. Você também sorria.

Em um olhar perfeito ela me convidou a me aproximar. Em um olhar esperançoso, eu disse a ela que iria, e com os olhos brilhando, juntei o que restava de minha armadura surrada e em um pulo acreditei. Eu não imaginava o que me aguardava exatamente alí, que é aqui ou qualquer lugar.

Os movimentos que sucederam foram muito rápidos: com um braço você me envolveu por inteiro. Com teus olhos, você perdoou minhas cicatrizes e em um sorriso tirou minha armadura. 

Eu
Teria
Desaparecido

Não fosse o som que saia da tua boca, não fosse o cheiro que vinha dos seus cabelos, não fosse toda a certeza que eu tinha de que eu queria estar exatamente alí, que, graças à Deusa, é aqui.

Hoje, que já é amanhã, me encontro de joelhos. Não em qualquer tipo de submissão ou devoção, mas em completa gratidão. Existe um riso dentro de mim que vem de você, que me lembra de quando eu ouvi Os Céus te criarem. Eu nunca fui tão feliz como quando você me ofereceu a comunhão que salvaria meus dias.

Um nome de anjo ela te deu, Azrael.
Eu sorri.
Ela se deitou.
Eu prometi vigiar.
Não mais sozinho.
Mas com a companhia de um guardião.



Monday, February 4, 2019

Como uma lâmpada no escuro


Minha mente viaja tão facilmente
E te encontra
Te encontra,
E se conecta
Ao diamante no seu ouvido

Não é seguro aqui
Mas é suave
E seu doce sorriso acende como uma lâmpada no escuro
Não há nada a temer
Eu digo
Enquanto me sento confortavelmente na sala de espera
E brinco com minhas luzes
Sob sua luz
Que acende como uma lâmpada no escuro

Há coisas que não podemos prever
E eu nunca teria imaginado também
Que você me tomaria como um simples estranho
Quando eu vim visitar um amigo de longa jornada

Há coisas que você não pode prever
Tais como as cicatrizes causadas pelos terremotos de ontem
Como alguém confundindo seu nome
E pedindo para você vir outra hora
Quando você acabou de usar sua melhor cor
Para visitar seu amigo de longa jornada

Eu finalmente sorrio
Depois de entender
Com muito cuidado
Que minha visita fez acender uma lâmpada no seu escuro.
Fazendo você ver mais do que você poderia lidar.
Muito mais…

Nunca tenha medo.
Eles não podem mais te machucar
Encontre sua casa
E você encontrará todo o resto
Assim como quando você acende uma lâmpada no escuro.

(English)
My mind drifts away so easily
And it finds you
It does find you
And connects
At the diamond on your ear

It’s not safe in here
But it’s mellow
And your sweet smile lights up a bulb in the dark
There’s nothing to be afraid
I say
As I sit comfortably in the waiting room
And play with my lights
Under your light
That lights up like a bulb in the dark

There are things that we can’t predict
And I would never have imagined as well
That you would take me as a simple stranger
When I came to visit a long-time journey friend

There are things that you cannot predict
Such as the scars caused by yesterday’s earthquakes
Such as someone confusing your name
And asking you to come another time
When you just wore your best colour
To visit your long-time spiritual friend

I finally smile
After understanding
Painstakingly
That my visit was for just one purpose:
Light up like a bulb in your dark.
Making you see more than you could handle.
So much more…

Do never be afraid, you pretty thing.
They can’t hurt you anymore
Find home
And you will find everything else
Just like when you light a bulb in the dark.

V.G.

Monday, October 2, 2017

Júpiter em Vênus


A noite estava gigantemente bela mais uma vez, pela segunda vez essa semana, pela milésima vez neste mês. Eu olhava por cima do véu e via tudo o que queria ver. O silêncio se espalhava como a pureza da alma verdadeira. As luzes que tentavam imitar qualquer desejo de localização se uniam em um só ponto, e eu me iluminava.
Eu amo esse cheiro de solitude e esse gosto de resiliência. De quem sobrevive todas as noites sem nunca deixar de ver a luz.
Eu confesso e devo assumir: por vezes não quis ver a luz, por vezes menti para mim mesmo que não havia nada lá. Eu me engasgava com a verdade que não pode ser calada. Ela é para todos, assim como essa luz, assim como esse silêncio, assim como essa noite.
Os gatos vinham de todos os lugares do espaço para dançar a dança universal dos que sentem em suas almas que são luz, que são silencio, que são a noite. Não há medo aqui, há apenas o conforto do pelo dos gatos pretos, pretos como essa noite.
Se eu souber olhar, verei nos olhos amarelos dos gatos pretos a doçura da ajuda milagrosa e divina. Eles vêm para amar, circular, rondar, proteger, confortar. Quando você os olha em seus olhos amarelos, eles piscam para você, com os dois olhos, pois não há segredo algum aqui. O que há é a verdade clara da noite escura.
Meu gato colocou sua pata de almofada em mim, enquanto eu admirava a noite plena, e me disse sem piscar: não arrebente seus miolos ainda. Nunca haviam sido tão diretos comigo antes, os gatos. Em seguida, ele me levou para a cama. Me colocou para dormir. Fechou meus olhos e cantou seu silêncio.

Eu agradeci a noite preta, os olhos amarelos e essa luz. Ah... essa luz.

V.G.

Sobre terremotos, portas e o guardião.


O terremoto dentro de mim estremeceu qualquer fundação que nunca esteve ali. Não era de verdade que eu te queria. Nunca foi de verdade que eu me quis. Sempre sozinho em todas as faces do mundo. O meu mundo. Nunca foi outro se não o teu, que nunca chegou, nunca estremeceu. Você não conhece o ruído sutil de um terremoto, e então nunca esteve com as orelhas ao chão.
Eu perdi o jogo quando disse que não era o jogador. Eu ganhei quando reconheci minha alma no topo da árvore. Nunca ela estremeceu.
Eu nunca te vi. Eu sempre te olhei. Eu olhava e me via enquanto achava que via alguém a mais. E nunca houve outro alguém. Estamos a sós finalmente. Eu e você. Sempre eu, sozinho, olhando para você que nunca será ninguém além de mim e todas as impressões que visto sua cara.
Minhas fundações se soltam como parafusos de portas velhas. Uma vez houve a intenção de bem aperta-los, mas os terremotos, os terremotos novamente. Simples como são, e de baixo para cima, e de todos os lados. Eu achei que estava bem parafusado. Eu achei que movia a porta com cuidado durante todos esses anos.
Nunca me pareceu tão velha a porta. Tão pouco sexy.
Em um lampejo de reconhecimento não humano, a porta sorriu. Era um abraço imaterial vindo do objeto mais obvio – ela abre, ela fecha, quantas vezes tiver que. Tão doce quanto era inanimada, a porta me amou. Ela sabiamente me disse entre farpas e bálsamo para madeira velha que meu mundo era incerto e volúvel. Nunca pude desconfiar da sólida porta. Eu chorava enquanto ela me abria. Com seu bálsamo ela me fechava.
Em um minuto eu falava sobre você, noutro eu abraçava a porta.
Minha necessidade era de matéria, mas minha alma queria a copa da arvore.
E se eu subisse, e se eu, lá, ficasse? Você nem saberia, embora eu te levasse comigo.
Outro dia me vi apaixonado pelo meu anjo da guarda. Quem não se apaixonaria por tal cavalheiro? Seu toque em meu coração era tão firme quanto o dia em que segurou minha mão. E eu estava no chão do banheiro. Sem força alguma para olhar para cima e enxergar seu cosmo dourado. Ele me olhava com um sorriso absurdo, lábios vermelhos de amor, olhos profundos de carinho. A porta já não mais poderia se fechar.
Foi quando então eu levantei, e caminhando encontrei um melhor amigo de ouro. Que com jeito e sem dedos me tocou – na alma. Eu estive o tempo todo buscando sua luz, seu conforto. Dentro da escuridão em mim, eu te acho em minha mente sempre que busco a mim mesmo. Afinal, quem mais há aqui?

Sozinho, entre o escuro e as luzes brilhantes. Com você, que sou eu, que divide meu estômago em 3, o pai, o filho e o espírito santo. Sei que minha intuição está certa. A porta não mente, a árvore emana a verdade, e o silêncio... ah... esse me diz todas as coisas que eu finalmente ouso perguntar.

V.G.

Monday, August 28, 2017

O Centauro



Existe por entre as florestas uma criatura tão amorfa quanto a névoa que percorre a copa densa das árvores verde-escuras. Às vezes ela se mostra como uma flecha em movimento: rápida e passageira, buscando um alvo do qual jamais teremos o mínimo vislumbre; é seu segredo natural. Às vezes a vemos encantada como um centauro, guiado por seu estômago e intuição. Ele sabe o que busca, e sabe também que nunca parará de procurar.

Tal criatura mágica nunca altera o natural percurso do ambiente em que se manifesta, já este, se forma e reforma para receber tal fantasticidade.


Não há possibilidade alguma de deter tal forma, de aprisioná-la, engarrafá-la, encarcerá-la. Ela será sempre mutável, disforme e absoluta em seu desprendimento. Cabe-nos observá-la em sua bondade e força, enquanto passa por nós em sua jornada infinita. É um privilégio.

V.G.

Wednesday, December 7, 2016

I am the light























Wish me well my dear,
I have to go.
I hear the ocean as it waves.
I see the light of the sun and moon.
In the form of waves. And they wave.
I see a tower and from up above I see it all.
It is clear as the light on the waves.
The sea calls in waves. The light lights the way.
I cannot be lost.
I close my eyes. I can still see. I can still hear it.
As a whisper it is revealed.
My path is enlightened.
My body decides: I will be a wave.
And then I wave as one with the ocean.
I am the light.

V.G.