Saturday, September 27, 2008

Lá e de volta (outra vez).

Lá e de volta (outra vez).

Do alto da minha montanha eu observava a magnitude dos seus princípios. Enxergava também a classe dos meus erros, se é que posso chamar de erro qualquer tentativa mal-sucedida de chegar a algum ponto específico, e, ao longo da minha análise percebi a estupidez da crítica!

Sei que não escrevo para você entender, mas imploro, me entenda mesmo quando não quero, ou deveria dizer, entenda-me principalmente quando não consigo me fazer claro e deixo-te afundado dentre minhas divagações, porque é exatamente quando preciso ser entendido!

E nesse desespero todo, entrego-te todo meu ouro, todos meus pensamentos mais preciosos, faça deles o que bem entender, mas faça alguma coisa, pois não sei lidar com a apatia, ela me paralisa. Seria demais pedir sua atenção exclusiva só nesse momento? Seria? Então lhe peço mais, lhe peço tudo o que puder dar. Gosto muito de mergulhar nas situações e perder a visão da superfície... Ah! Há tempos não me lembro da superfície.

As semanas passam voando, os meses, mal posso lembrar do que exatamente aconteceu em cada um deles e meus objetivos continuam amorfos. Não que eu não tenha me aproximado um pouco mais deles, sim, eu sinto que eu estou me movimento em alguma direção, mas como se pode tentar chegar a algum lugar desconhecido, sendo que o caminho até ele é tão amorfo e neblinado quanto a minha certeza de que eles realmente são meus objetivos (?).

Caro (melhor) amigo de ouro, por onde estivemos andando? Por que não nos cruzamos mais? Por que não consigo mais sentir sua energia viva pulsando por todos os lados? Você finalmente se foi? O que me faz demorar tanto para entender isso? Qual maldição me prende ao passado como se fosse há apenas 5 minutos? Sinto muito, sinto.

Logo descerei e a montanha se tornará mais um ponto distante no tempo. O que farei de novo lar? Você poderia ter deixado minha cabana de salgueiro em seu portão, era seguro, sagrado, era só o que eu conhecia, que aprendemos juntos.

(v.g)
(Crônica com nítida influência de Lispector, não posso evitar, estou enfeitiçado.)

Monday, September 22, 2008

Só para constar...



...ele era daquelas pessoas que agente sente nojo do copo.
Daquelas que não param de falar, e cada assunto anunciava mais 3.
As histórias tão fabulosas quanto sua mente puder imaginar; conhecia a todos,
era convidado para os grandes eventos mas não tinha o dinheiro do onibus para ir
embora e por isso ficou.

(V.G)

(Silent all these years)


"Com licença, mas eu posso ser você só por um instante?
Meu cachorro não o morderá se você permanecer sentado
Eu tenho 'O Anticristo' na cozinha gritando comigo de novo.
Sim, eu posso ouvir isto.

Fui salvo novamente pelo caminhão de lixo,
Eu tenho algo pra dizer, você sabe, mas nada vem
Sim, eu sei o que você pensa de mim
'Você nunca se cala'
Sim, eu posso ouvir isto.

Meu grito se perdeu em uma xícara de papel
Eu penso que há um céu onde alguns gritos desaparecem
Eu tenho 25 conto e uma bolacha, você acha que isso é suficiente,
Para nós chegarmos lá?"

(Tori Amos)

Saturday, September 13, 2008

Os Sonâmbulos














Os sonâmbulos


Eu estou aqui de novo,
Dentro de você.
É tão bom ficar aqui,
Mas eu fico pouco tempo.
Eu flutuo ao redor numa hibernação subaquatica
Num hotel conectado à mesa de eletrecidade e alimentando-me.

Tyoowoohoo

Mas a espera me deixa inquieto – Eu chuto a fragilidadae pra fora – Eu tenho que ir - Socorro!

Tyoowoohoo

Eu explodo e a paz se vai.
Tomo banho na luz nova,
Eu choro e eu choro - disconectado.
Um cérebro arruinado colocado em peitos,
E alimentado por sonâmbulos.



Thursday, September 11, 2008

Líquido.






A vida estava prestes a me engolir, eu já tinha percebido
.
Espreitava-me como um gato à frente toca do rato, com a mesma calma do mar antes da tempestade. Não havia possibilidade de correr, porque já havia corrido antes e o caminho só me levava a toca do rato denovo, pela porta do fundo, talvez, como se isso aliviasse minha vergonha. Entrar pelos fundos...
Eu poderia vomitar, sentia cubos de gelo deslizando poéticamente garganta abaixo, e isso tudo poque havia conseguido o que tanto almejara não querer, e no dia de amanhã, o que eu queria ia me consumir por inteiro. Meus pés estavam frios como a morte, e meu coração batia ao ritmo da ansiedade de uma paixão avassaladora. Então eu observei...
Pela porta de vidro da sala, podia ver o crepúsculo em sua mais bondosa apresentação de rosa e lilás, a altura do meu apartamento me permitia uma visão privilegiada, a sacada estava limpa e delicadamente iluminada pelos ultimos raios do sol. Era uma gentileza. Ao me aproximar do batente da grade da sacada, olhei pra baixo, foi quando tudo aconteceu.
Um misto de assombramento e devoção estalou na minha mente, como se tivesse visto um hipogrifo. O temor, claramente vinha do fato de me confrontar com o desconhecido e o vislumbramento veio junto com a certeza da verdade. Eu estava vivo, o mundo estava vivo e pulsava, como um enorme nervo cardíaco, ironicamente vivo, apenas esperando ser notado. E veja você, como em uma explosão de fogos de artifício, eu havia visto a vida, e ela também me vira. Em um reflexo dissimulado, tentei esquecer o terrivel e divino olhar do mundo me vendo, disfarçando o semblante de terror para uma expressão de paisagem. Era tão absurdo quanto ser displicente com a explosão de uma bomba atômica.
Mas isso não funciona com a vida, quando ela te vê, inevitavelmente quer comer você.
O fato de ter sido descoberto em flagrante na minha atuação de não-vida me enchia de culpa, uma culpa absolutamente desculpável, para meu conforto, assim como uma criança a rabiscar a parede sem o entendimento e perdendo de uma vez toda a inocência, olhei mais uma vez a vida nos olhos, com a mesma coragem de quando não tinha coragem alguma e parei. Ela sorriu, vi seus dentes.
A vida poderia ter me destroçado alí, e o teria feito se não fosse tão piedosa. Ela me via como eu era, não haviam mais desfarces. Eu era uma criança em crise. Perturbado, dissimulado, desviado, confortavel e muitas outras coisas que tenho receio em admitir, então me calo e deixo a vergonha te contar tudo...

(V.G)