Monday, October 2, 2017

Sobre terremotos, portas e o guardião.


O terremoto dentro de mim estremeceu qualquer fundação que nunca esteve ali. Não era de verdade que eu te queria. Nunca foi de verdade que eu me quis. Sempre sozinho em todas as faces do mundo. O meu mundo. Nunca foi outro se não o teu, que nunca chegou, nunca estremeceu. Você não conhece o ruído sutil de um terremoto, e então nunca esteve com as orelhas ao chão.
Eu perdi o jogo quando disse que não era o jogador. Eu ganhei quando reconheci minha alma no topo da árvore. Nunca ela estremeceu.
Eu nunca te vi. Eu sempre te olhei. Eu olhava e me via enquanto achava que via alguém a mais. E nunca houve outro alguém. Estamos a sós finalmente. Eu e você. Sempre eu, sozinho, olhando para você que nunca será ninguém além de mim e todas as impressões que visto sua cara.
Minhas fundações se soltam como parafusos de portas velhas. Uma vez houve a intenção de bem aperta-los, mas os terremotos, os terremotos novamente. Simples como são, e de baixo para cima, e de todos os lados. Eu achei que estava bem parafusado. Eu achei que movia a porta com cuidado durante todos esses anos.
Nunca me pareceu tão velha a porta. Tão pouco sexy.
Em um lampejo de reconhecimento não humano, a porta sorriu. Era um abraço imaterial vindo do objeto mais obvio – ela abre, ela fecha, quantas vezes tiver que. Tão doce quanto era inanimada, a porta me amou. Ela sabiamente me disse entre farpas e bálsamo para madeira velha que meu mundo era incerto e volúvel. Nunca pude desconfiar da sólida porta. Eu chorava enquanto ela me abria. Com seu bálsamo ela me fechava.
Em um minuto eu falava sobre você, noutro eu abraçava a porta.
Minha necessidade era de matéria, mas minha alma queria a copa da arvore.
E se eu subisse, e se eu, lá, ficasse? Você nem saberia, embora eu te levasse comigo.
Outro dia me vi apaixonado pelo meu anjo da guarda. Quem não se apaixonaria por tal cavalheiro? Seu toque em meu coração era tão firme quanto o dia em que segurou minha mão. E eu estava no chão do banheiro. Sem força alguma para olhar para cima e enxergar seu cosmo dourado. Ele me olhava com um sorriso absurdo, lábios vermelhos de amor, olhos profundos de carinho. A porta já não mais poderia se fechar.
Foi quando então eu levantei, e caminhando encontrei um melhor amigo de ouro. Que com jeito e sem dedos me tocou – na alma. Eu estive o tempo todo buscando sua luz, seu conforto. Dentro da escuridão em mim, eu te acho em minha mente sempre que busco a mim mesmo. Afinal, quem mais há aqui?

Sozinho, entre o escuro e as luzes brilhantes. Com você, que sou eu, que divide meu estômago em 3, o pai, o filho e o espírito santo. Sei que minha intuição está certa. A porta não mente, a árvore emana a verdade, e o silêncio... ah... esse me diz todas as coisas que eu finalmente ouso perguntar.

V.G.

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