Wednesday, July 22, 2009

Crônica dupla do seu ser único.






Crônica dupla do seu ser único.



Estar em Valfenda com seu guardião, em sua fuga rotineira é sempre incrível, um refúgio a mais que você busca todas as noites. Mas pela primeira vez, não deu certo, as vozes que te perseguiam aos arredores de Mordor ainda ressoam alto, e tentam retirar-lhe a consciência.
Você senta às raízes de uma arvore velha, tentando manter a calma e percebe que não está sozinho, nunca esteve. Uma voz nítida e tenra lhe fala, vinda de algum lugar dentro de você.

- “Acalmar a tensão, fugir do que te sufoca, desviar a atenção, se iludir, sair do campo de vista de todos... Por que sempre caças utopias?” – dizia alguém em um tom respeitoso e seguro.
- Apenas tento... Acalmar-me... Fico bem aqui, fico bem sentado aqui, olhando a copa das arvores, sentindo a terra junto a meus pés. – respondes a sí mesmo, rapidamente.
-“Tentas em vão, tentas pela maneira errada buscar lucidez, procurando-a no teu mais insano sonho, tu és o guardião das coisas mais sábias, e vagas por lugares escuros, esqueces o valor que tens, e choras, tolamente. Ah! Como choras.” – Dizia a voz, que agora soava quase familiar.

Parecia estranho estar conversando sozinho, e já era óbvio, você falava sozinho... E podia ouvir algo dentro de você, algo nunca ouvido antes, uma consciência inexplorada.

- Por que me sinto sozinho? Por que o sol não brilha mais como antes? E se eu morresse? E se...
- “Sozinho” – Interrompeu a voz – “Sozinho és e sempre serás, mas busques dentro de você, toda a complexidade do seu ser, seria incabível que fostes dois, mas, vejas as milhares de facetas e discordâncias que cabem dentro do teu ser único e pródigo! Há um mundo interior, uma Terra-Média inteira, esperando ser acordada, mas ainda sim, vivendo nas fagulhas de seu sangue, inconscientes, e aguardando um abraço eterno.”
- Mas e se eu não gostar do vejo? – pergunta você, confuso e quase inconsciente.
-“Se não gostou, é por que não olhou bem, não viu e nem sentiu a força do seu interior. Você deve entender cada uma de suas partes, englobá-las e torná-las livres, vivendo em perfeita harmonia, se fizer isso, verás que não é o lugar que está que fará a diferença, porque a diferença já será trazida consigo.”
- Devo deixar Valfenda? Devo esquecê-la? Meu único refúgio...
-“Entendes pelo avesso.” – dizia a voz, liberando um discreto riso – “Deves estar em Valfenda, mesmo estando em qualquer outro lugar, mas não deves nomeá-la “refúgio”, pois não há necessidade de fuga para quem entende tudo o que é! E uma vez mais seguro, poderás ser o grande guerreiro, com sua armadura reluzente, pronto para sua caminhada solitária.”

E então um calor poderá viver dentro de você, fazendo com que brilhe sua única estrela, fazendo com que sua vida, seja muito menos cinza.


(Achei esta cronicazinha, que pensei estar perdida por aí...é uma das primeiras coisas que escrevi, depois de me desventurar pelo mundo...)

Thursday, July 9, 2009

Desistir.



Já não sei mais aonde foi que me perdi.

Sei só que ficou pra tras ha muito tempo.

Preciso vomitar, toda essa falta que me preenche,

falta de afeto,

falta de humanismo,

falta de compreensão,

falta de consciência.

Me sinto desfoque,

apagado,

esquecido,

temeroso,

retirado e ilícito.

As melhores jóias foram-se por conta própria,

uma a uma,

observando meu amanhecer chuvoso,

empestiado de algo ruim e pegajoso.

Quero desistir,

assim como todos desistiram de mim,

quero ser mais um a desistir.


(V. Gobatti)