O terremoto dentro de mim estremeceu qualquer fundação que
nunca esteve ali. Não era de verdade que eu te queria. Nunca foi de verdade que
eu me quis. Sempre sozinho em todas as faces do mundo. O meu mundo. Nunca foi
outro se não o teu, que nunca chegou, nunca estremeceu. Você não conhece o
ruído sutil de um terremoto, e então nunca esteve com as orelhas ao chão.
Eu perdi o jogo quando disse que não era o jogador. Eu
ganhei quando reconheci minha alma no topo da árvore. Nunca ela estremeceu.
Eu nunca te vi. Eu sempre te olhei. Eu olhava e me via
enquanto achava que via alguém a mais. E nunca houve outro alguém. Estamos a sós
finalmente. Eu e você. Sempre eu, sozinho, olhando para você que nunca será
ninguém além de mim e todas as impressões que visto sua cara.
Minhas fundações se soltam como parafusos de portas velhas.
Uma vez houve a intenção de bem aperta-los, mas os terremotos, os terremotos
novamente. Simples como são, e de baixo para cima, e de todos os lados. Eu
achei que estava bem parafusado. Eu achei que movia a porta com cuidado durante
todos esses anos.
Nunca me pareceu tão velha a porta. Tão pouco sexy.
Em um lampejo de reconhecimento não humano, a porta sorriu.
Era um abraço imaterial vindo do objeto mais obvio – ela abre, ela fecha,
quantas vezes tiver que. Tão doce quanto era inanimada, a porta me amou. Ela
sabiamente me disse entre farpas e bálsamo para madeira velha que meu mundo era
incerto e volúvel. Nunca pude desconfiar da sólida porta. Eu chorava enquanto
ela me abria. Com seu bálsamo ela me fechava.
Em um minuto eu falava sobre você, noutro eu abraçava a
porta.
Minha necessidade era de matéria, mas minha alma queria a
copa da arvore.
E se eu subisse, e se eu, lá, ficasse? Você nem saberia,
embora eu te levasse comigo.
Outro dia me vi apaixonado pelo meu anjo da guarda. Quem não
se apaixonaria por tal cavalheiro? Seu toque em meu coração era tão firme
quanto o dia em que segurou minha mão. E eu estava no chão do banheiro. Sem
força alguma para olhar para cima e enxergar seu cosmo dourado. Ele me olhava
com um sorriso absurdo, lábios vermelhos de amor, olhos profundos de carinho. A
porta já não mais poderia se fechar.
Foi quando então eu levantei, e caminhando encontrei um
melhor amigo de ouro. Que com jeito e sem dedos me tocou – na alma. Eu estive o
tempo todo buscando sua luz, seu conforto. Dentro da escuridão em mim, eu te
acho em minha mente sempre que busco a mim mesmo. Afinal, quem mais há aqui?
Sozinho, entre o escuro e as luzes brilhantes. Com você, que
sou eu, que divide meu estômago em 3, o pai, o filho e o espírito santo. Sei que
minha intuição está certa. A porta não mente, a árvore emana a verdade, e o
silêncio... ah... esse me diz todas as coisas que eu finalmente ouso perguntar.
V.G.
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