A noite estava gigantemente bela mais uma vez, pela segunda vez essa semana, pela milésima vez neste mês.
Eu olhava por cima do véu e via tudo o que queria ver. O silêncio se espalhava
como a pureza da alma verdadeira. As luzes que tentavam imitar qualquer desejo
de localização se uniam em um só ponto, e eu me iluminava.
Eu amo esse cheiro de solitude e
esse gosto de resiliência. De quem sobrevive todas as noites sem nunca deixar
de ver a luz.
Eu confesso e devo assumir: por
vezes não quis ver a luz, por vezes menti para mim mesmo que não havia nada lá.
Eu me engasgava com a verdade que não pode ser calada. Ela é para todos, assim
como essa luz, assim como esse silêncio, assim como essa noite.
Os gatos vinham de todos os
lugares do espaço para dançar a dança universal dos que sentem em suas almas
que são luz, que são silencio, que são a noite. Não há medo aqui, há apenas o conforto
do pelo dos gatos pretos, pretos como essa noite.
Se eu souber olhar, verei nos
olhos amarelos dos gatos pretos a doçura da ajuda milagrosa e divina. Eles vêm
para amar, circular, rondar, proteger, confortar. Quando você os olha em seus
olhos amarelos, eles piscam para você, com os dois olhos, pois não há segredo
algum aqui. O que há é a verdade clara da noite escura.
Meu gato colocou sua pata de
almofada em mim, enquanto eu admirava a noite plena, e me disse sem piscar: não
arrebente seus miolos ainda. Nunca haviam sido tão diretos comigo antes, os
gatos. Em seguida, ele me levou para a cama. Me colocou para dormir. Fechou meus
olhos e cantou seu silêncio.
Eu agradeci a noite preta, os
olhos amarelos e essa luz. Ah... essa luz.
V.G.