As bruxas chegam em bando, chegam na neblina, chegam por
entre as árvores. Elas trazem um milhão de anos embaixo de seus cabelos de
pôr-do-sol, trazem olhos que já viram tudo. Uma bruxa sempre sabe o que você é,
o que foi e muito do que será. Seu rosto de iluminação trevosa já equilibrou o
que precisava, e esta noite a feiticeira dança sobre o fogo da fogueira de sua
intuição. Cada chama causa àquela senhora cócegas cósmicas, e ela sabe que está
a serviço da força maior, sua Lua cheia.
Seu chamado vem com a voz de uma mãe. Ela deu luz ao mundo,
ela lhe ensinou as trevas e ela lhe deu a lanterna. Uma filha da Terra jamais
deixaria de oferecer a doçura que recebeu dos lábios da Deusa. Compartilhar é
seu maior dom. As bruxas são a encarnação da sabedoria piedosa, do beijo na
testa e das bençãos silenciosas.
Quando uma bruxa te olha, seus olhos castanhos de tronco de
carvalho brilham em reconhecimento. Ela sabe de pronto, pois já viu um milhão
de vezes. Ela sabe porque sempre soube enxergar enquanto os outros viam.
Se um dia uma bruxa lhe dirigir uma palavra, apresse-se em
engolir cada palavra como um pedaço de verdade sabor camomila. No fundo, ela
veio até aqui só para isso, para que com sua maternidade divina e instintiva
ela consiga te indicar a direção onde a trilha das árvores é mais florífera,
onde o escuro pode ser sobreposto pela luz do diamante em seu cajado. Não se
atreva a se mexer, você pode estragar tudo, você pode perder o espetáculo
feminino.
Eu, um dia, vi uma bruxa. Eu confesso que nunca
me recuperei do choque de vê-la dançar. Ela girava como a Terra, brilhava como
o Sol, se movia como a Água e me tocava como o Ar. Sua saia rodada era uma
ciranda estelar. Sua sensualidade, descomunal. Ela trazia em seu corpo o
orgasmo celestial. Nada pode superar isso, nem um milhão de anos. Após dançar
seu rito circular, ela se foi, como uma bruxa, como uma aparição, e me deixou
iluminado. Me deixou inspirado. Eu agradeço. E sei que ela ri quando ouve. Como
são gentis essas bruxas.V.G.